21 de novembro de 2024

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Quem é Sandro Mabel, eleito prefeito de Goiânia no 2º turno das eleições de 2024







Após mais de 10 anos sem ocupar um cargo público, o empresário e ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil) foi eleito neste domingo (27) prefeito de Goiânia. Ele derrotou no segundo turno Fred Rodrigues (PL), que teve a candidatura alavancada por Jair Bolsonaro (PL), expondo desavenças entre o ex-presidente e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), até então seu aliado.

Foi Caiado quem convenceu o empresário, que tem 65 anos, a voltar a disputar uma eleição. Para tal, ele trocou o Republicanos pelo União Brasil, partido comandado em Goiás por Caiado. Desde então, o governador, que tem bons índices de aprovação no Estado, se colocou como o principal cabo eleitoral de Mabel, que havia ficado em segundo lugar no primeiro turno. Mais rico na disputa, ele declarou um patrimônio de R$ 313,4 milhões à Justiça Eleitoral.

Sandro Antonio Scodro, o Sandro Mabel, não é goianiense nem goiano. Ele nasceu em Ribeirão Preto (SP), em 31 de dezembro de 1958. Ele ficou conhecido como Mabel em homenagem à fábrica de biscoitos fundada por seu pai e um tio, descendentes de italianos, que antes tinham uma padaria no interior de São Paulo.

A Mabel foi fundada em Mococa, em 1954, fabricando rosquinhas de coco. Em 1962, inaugurou seu primeiro parque industrial, em Ribeirão Preto, com o nome oficial de Cipa Industrial de Produtos Alimentares. Em 1974, a Mabel abriu a fábrica de Aparecida de Goiânia (GO), na região metropolitana de Goiânia e, dois anos depois, iniciou a fabricação dos alimentos no Rio de Janeiro.

Em 1984, houve uma divisão administrativa do grupo. Udélio e seu filho Cláudio ficaram administrando a empresa em Ribeirão Preto. Nestore e o filho Sandro – agora eleito prefeito – passaram a cuidar da empresa em Goiás. Em 2011, a Pepsico adquiriu a Mabel por R$ 800 milhões, e, mais tarde, em 2022, a Camil Alimentos comprou a empresa da Pepsico por R$ 158 milhões.

Nessas negociações, Sandro Mabel teve que abrir mão da sua participação no grupo, pois a Pepsi queria comprar 100%. Ele ainda tentou manter uma parte, mas, como os demais sócios aceitaram a proposta da empresa norte-americana, também teve que vender sua parcela no grupo.

Nome da tradicional política goiana

Atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Mabel se licenciou para concorrer pela segunda vez à Prefeitura de Goiânia. Na primeira, há 32 anos, ele perdeu. À época, ele era deputado estadual pelo PMDB e contava com o apoio do governador Iris Rezende, um dos nomes históricos da política goiana, assim como Ronaldo Caiado.

Na disputa pela Prefeitura de Goiânia em 1992, Sandro Mabel foi derrotado por Davi Accorsi, do PT. Curiosamente, Mabel enfrentou – e venceu – em 2024, a filha de seu algoz político dos anos 1990, a deputada federal Adriana Accorsi (PT). Ela ficou em terceiro lugar no primeiro turno.

Ao fim do mandato de deputado estadual, em 1995, Mabel se candidatou a deputado federal, também pelo PMDB. Venceu e foi reeleito outras duas vezes, uma pelo PL, com mandato de 2003 a 2007, e outra pelo PR, de 2007 a 2011.

Na Câmara dos Deputados, foi relator do substitutivo da PEC 74-A, que altera o Sistema Tributário Nacional, por meio da Reforma Tributária. O trabalho foi desenvolvido para simplificar a tributação do país e redistribuir a arrecadação entre União, estados e municípios, desconcentrando o dinheiro público das mãos do governo federal. Mas o projeto sequer foi votado.

Autor do projeto da terceirização do trabalho

Mabel também é o autor do projeto de lei 4330, de 2004 que, segundo os defensores da proposta, visa proteger os trabalhadores terceirizados. No entanto ele divide opiniões, pois permite a terceirização de quaisquer atividades das empresas, ao não definir o que seria atividade fim e atividade meio, e esvazia a responsabilidade da contratante quanto a eventuais inadimplências da prestadora de serviços em relação aos seus empregados.

Pelo projeto de Mabel, os terceirizados poderiam executar atividades fim da empresa, ou seja, a função principal da companhia. Até então, as empresas só podiam terceirizar atividades meio. Por exemplo: uma empresa que produz móveis podia até então terceirizar a limpeza e o serviço de alimentação de seus funcionários, mas não o de montagem da mobília.

Além de liberar a terceirização nas atividades essenciais da empresa, o projeto acaba com a responsabilidade solidária da contratante. Desse modo, se a terceirizada não arcar com as obrigações trabalhistas, a tomadora de serviços pode não ter qualquer responsabilidade pelos trabalhadores que prestavam serviço a ela e nem ser cobrada na Justiça.

Denúncias de corrupção apurada na Lava Jato

A longa trajetória política de Mabel foi usada contra ele e Caiado nos ataques de Bolsonaro e Fred, que repetiram durante a campanha que a eleição do empresário representaria a continuidade da “velha política” no poder goiano. Também usaram contra Mabel acusações de corrupção investigadas no bojo da Lava Jato.

Enquanto era deputado, Mabel teria cobrado R$ 10 milhões de propina da Odebrecht em troca da liberação de uma obra, segundo inquérito autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Os delatores da Odebrecht disseram ter destinado R$ 50 milhões a ele e outros três parlamentares para ajudarem a Odebrecht e Andrade Gutierrez a vencerem a licitação da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio e aparar arestas com o governo federal.

Na lista de recebedores do “departamento da propina” da Odebrecht, Mabel era identificado como “Biscoito”. Um executivo da empreiteira que firmou delação à Polícia Federal (PF) disse que os apelidos eram usados para que os funcionários do “baixo clero” da área que fazia os repasses irregulares não ficassem sabendo para quem ia o dinheiro.

Mabel foi assessor de Temer e saiu com avanço de investigação

Já ex-deputado federal, Sandro Mabel foi assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB), que assumiu o cargo após o impeachment de Dilma Rousseff. Ele era um dos assessores que despachavam do terceiro andar do Palácio do Planalto – mesmo pavimento do gabinete presidencial – e ajudavam o emedebista na interlocução com congressistas e empresários.

O empresário, que havia sido líder do governo na Câmara dos Deputados durante a gestão de Dilma, deixou o governo Temer em maio de 2017, com outros três assessores especiais do então presidente, todos alvos de delações premiadas – José Yunes, Rodrigo Rocha Loures e Tadeu Fillipelli.

Temer chegou a ser incluído na investigação do chamado “Quadrilhão do PMDB”, incluía 11 caciques do partido – que depois de então passou a se chamar MDB. Entre eles também estava Eduardo Cunha, que comandou o impeachment de Dilma quando presidia a Câmara. E Mabel, segundo a PF, era uma pessoa de “confiança de Eduardo Cunha para propor emendas e medidas provisórias”.

Temer e seus principais auxiliares rechaçaram todas as suspeitas levantadas pelos investigadores. Mabel deixou o governo do emedebista após o Ministério Público de Goiás (MPGO) pedir instauração de inquérito para apurar supostos pagamentos ilícitos feitos, em 2010, por ex-executivos da Odebrecht ao então deputado federal.

O Ministério Público Federal (MPF) informou que os ex-executivos da construtora João Antônio Pacífico Ferreira e Ricardo Roth Ferraz de Oliveira relataram pagamentos feitos, a pretexto de doação de campanha, ao empresário que, na ocasião, era candidato a deputado federal. O valor seria de R$ 100 mil, pagos por meio de recursos não contabilizados, mas registrados no sistema Drousys, usado para contabilizar pagamentos em propina da empreiteira.

Supostas fraudes de certificados digitais

Em 2020, quando já presidia a Fieg, Sandro Mabel foi alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF, durante a realização da operação Tokens, que investigava fraudes em certificados digitais de fiscais e gestores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

De acordo com a PF, ele e outros alvos integravam dois “núcleos”: os falsificadores e os estelionatários. Agiriam em um esquema para beneficiar donos de terras – terceiro e último núcleo – embargadas na região da Amazônia Legal. O prejuízo estimado era de R$ 150 milhões. Mabel tem fazenda em Canabrava do Norte (MT) e foi alvo de mandado em Goiânia.

O empresário, que chegou a responder ação pedindo a cassação do seu mandato na Câmara por causa das denúncias de supostas propinas da Odebrecht, sendo poupado pelos colegas parlamentares, sempre negou qualquer envolvimento nos crimes a ele atribuídos. Também não foi condenado pela Justiça. Chamou de fake news as acusações endossadas pelo MPF e MPGO e lembradas pelo concorrente Fred na campanha de 2024.

Fonte: Jornal O Tempo